Há alguns dias, num daqueles jantares muito bem regados, surgiu a conversa sobre os Vinhos Verdes, onde um amigo, supostamente bem informado, me evidenciou o facto de que afinal de contas existem vinhos verdes maduros…
Assim sendo, não faz qualquer sentido a pergunta “Verde ou Maduro?”, mas sim a pergunta: “Vinho da região do Alentejo ou da região dos Vinhos Verdes?”, ou “ Vinho da Bairrada ou Douro?”, aliás todas elas Regiões Determinadas, DOC (Denominação de Origem Controlada).
Tal como na maioria das outras regiões demarcadas de Portugal, na região do Vinho Verde também se fazem vinhos brancos, rosados, tintos e espumantes, todos eles vinhos maduros, feitos de uvas sãs, em bom estado de maturação, pelo menos tanto como nas outras regiões portuguesas. Vinhos modernos e recomendáveis que nada devem aos restantes vinhos portugueses. É evidente que estes vinhos apresentam um estilo único, diferenciado e típico. Mas não me digam que é pela tipicidade do Vinho Verde que surge este equívoco, porque é sempre de tipicidade que se trata quando se fala em Denominações de Origem (todas elas singulares e únicas no mundo). Existem também vinagres de vinho verde, aguardentes de vinho verde e reconhecidas bagaceiras.
No entanto sobre o nome, Vinho Verde, escreve Luís Lopes:
Devido às características edafoclimáticas1 encontradas nessa região demarcada, os vinhos lá produzidos, sejam brancos ou tintos, têm uma concentração em ácido málico2 superior à que é frequente nos vinhos de outras regiões de Portugal. Em geral as pessoas não se apercebem, mas quando termina a fermentação alcoólica do mosto, também designada por fermentação tumultuosa3, ainda não terminou a vinificação, pelo menos nestes vinhos.
O vinho verde é o segundo vinho português mais exportado depois do vinho do Porto.
1- As condições edafoclimáticas são relativas à influência dos solos nos seres vivos, em particular nos organismos do reino vegetal, incluindo o uso da terra pelo homem, a fim de estimular o crescimento das plantas.
2- O ácido málico é um ácido orgânico encontrado naturalmente em frutas como a maçã, a pêra ou a uva. Consiste numa substância azeda e adstringente, muito empregada como acidulante, aromatizante e estabilizante na indústria alimentícia. Na indústria farmacêutica, o ácido málico é utilizado na higienização e regeneração de ferimentos e queimaduras. O processo de fermentação malolática converte o ácido málico em um ácido lático mais suave.
3- A fermentação tumultuosa dura poucos dias, quando ocorrem um grande desprendimento do gás carbónico e o aumento da temperatura.
Espero assim ter contribuído para esclarecer uma dúvida tão comum no nosso dia-a-dia e até no universo da restauração.